Tudo começou num belo dia na obra.
Era um Domingo e como prevê a bíblia, é o dia de Deus, o dia em que o Homem (com H grande) deve rumar à igreja mais próxima para medir as consequências dos seus pecados, é pois um dia de auto-reflexão, na companhia dos nossos semelhantes.

Foi por meu desagrado que o patrão me obrigou a trabalhar nesse belo dia, que à partida deveria ser a minha folga.

No meio da agonia, ainda para mais, por causa da irresponsabilidade do meu patrão, que tinha o infeliz vício de prometer prazos irrealistas para a conclusão da obra, encontrei a minha razão de viver.

Desde já devo admitir que não me encontrava propriamente realizado com o rumo que a minha vida seguiu, uma vez que trabalhava em algo que odiava e tinha uma esposa que me deixou cornudo, adivinhem só que até deu à luz um puto negro, valendo referir que nenhum de nós possuía traços ou ascendência africana, bem como o facto de eu ter perdido os meus testículos num tubo de escape enquanto estava alcoolizado (uma história para outra altura).

Pois bem, era corno, infeliz e pai de um escarumba.

Foi nesse inesquecível dia que tudo mudou. Enquanto me encontrava sozinho a espalhar o reboco na recém construída parede, senti algo como nunca antes. No preciso momento em que olho de relance para a betoneira que me auxiliava na tarefa, senti uma atração como nunca antes. Eu salivava de desejo, apenas as minhas mais recalcadas vontades falam e pairava o desejo de sentir as pás giratórias daquela apetecível máquina dentro de mim.

E assim foi, meti-me dentro dela e gemi de prazer enquanto os restos de areia que ali se encontrava me arranhavam o esfíncter, uma sensação de prazer sem igual.

A partir desse momento, tudo na minha vida começou a fazer mais sentido, comecei a ser o primeiro a chegar à obra e o último a ir embora, tendo até mesmo o meu patrão elogiado esta atitude, mas mal sonhava ele que eu não o fazia para trabalhar, mas sim para repetir aquele momento, vezes sem conta.

Tudo mudou, num chuvoso dia, não sendo possível secar o cimento para a continuação do trabalho, apenas estava eu e a minha betoneira, decidi então fazer uma pausa nas tarefas e entreter-me da minha forma preferida, entrei dentro dela e mais uma vez senti como a mesma me aniquilava o ânus.

O patrão surge de rompante e fica repugnado com o que vê, pelo que procede a despedir-me. Sem pensar duas vezes, fujo com a minha betoneira e divorcio-me da minha esposa, para nunca mais a ver.

Hoje, vivo na rua com a minha amada betoneira, pois nada me preenche o meu estado de espírito e o ânus da mesa forma que ela.