2020 foi um ano muito complicado, convenhamos. Um ano em que mais cedo ou mais tarde, o medo, a depressão, a ansiedade, a insegurança e demais estados psicológicos afetariam muitos, fora todas as perdas, demais problemas no caminho e um idiota na presidência. Nunca fui uma pessoa ansiosa e me considero bem tranquilo nesse sentido, mas dessa vez nem eu escapei.

Em junho de 2020, já cansado de estudar e mesmo tendo esgotado toda a minha backlog de jogos/livros etc, já não tinha nenhuma perspectiva do que fazer, eram dias em que eu apenas existia, sem nenhuma perspectiva de futuro ou muito menos sem saber o que fazer no presente. Como amante da franquia, lembrei do MMORPG e resolvi dar uma chance a partir da versão de teste. E olha, de longe foi a decisão mais acertada que fiz nesse ano.

Final Fantasy XIV é um jogo que vai muito além de um MMORPG baseado em uma série famosa. Ele faz jus ao título numerado e de fato, cultiva o padrão altíssimo criado pela Square. Tendo jogado praticamente todos os MMORPGs da atualidade e muito deles sendo mais do mesmo, afirmo sem hesitação: Não há nada igual no mercado.

Mas nem sempre foi assim. Na sua versão 1.0 em 2010, utilizando da mesma engine do FF13 sem grandes adaptações, o jogo saiu todo quebrado: Muitos bugs, sistemas que não funcionavam, questlines ridículas, interfaces confusas etc. No geral é uma história longa, mas resumindo: Após mudanças de nomes e posições no escritório, o suporte do jogo para sua versão atual da época continuava para manter a galera jogando enquanto a equipe desenvolvia o FFXIV 2.0, o chamado A Realm Reborn, um verdadeiro revamp canônico no jogo, polindo e corrigindo tudo a partir do feedback da comunidade. A partir daí, o jogo só melhorou nas suas aventuras seguintes, atingindo o ápice até então na última expansão Shadowbringers. Realmente foi e é um trabalho inspirador e digno de aplausos da equipe comandada por Naoki Yoshida, é um dos poucos casos em que você vê que há um carinho ali embutido no suporte ao jogo.

O jogo se passa no mundo de Eorzea, em que nós jogadores somos enviados anos para o futuro após uma catástrofe (lembra do revamp da história que falei? então). Assim, literalmente recomeçamos nossa história nessa nova Eorzea, a fim de entender mais o que aconteceu e reconstruir nossa jornada como aventureiros. Não demora muito para você conhecer novas histórias, encontrar com novos e antigos personagens, e compreender que a história é tão profunda e densa como qualquer outro Final Fantasy, abordando diversos temas, e que só melhora conforme avança.

Não poderia ser uma grande história sem grandes aliados, para isso o jogo dispõe e mantêm a comunidade mais acolhedora já vista, sendo reconhecida e ganhando até prêmios por isso. Videogames são máquinas de empatia, e por ser um jogo online, passamos horas interagindo com um mundo virtual como outra pessoa e com diversos jogadores de todo o mundo. Eu gostaria que mais pessoas percebessem o quanto isso é importante. No meu total de horas, conto em uma única mão quantos casos de toxicidade presenciei. Acredito que isso se deve a muitos fatores como o nicho que Final Fantasy ainda é, de certa forma, no ocidente; a própria forma como a comunidade da série foi construída e que por existir o sistema de mensalidade, consequentemente quem joga é uma galera mais adulta que pode se manter pagando. Nunca me senti tão acolhido e rodeado de pessoas incríveis mesmo em uma época de distanciamento e isolamento social.

Outro fator de destaque são as classes e o combate. O jogo conta atualmente com 20 classes, cada um com uma gama de habilidades e comportamentos diferentes em luta, sendo possível usufruir de todas em um único personagem e trocar a qualquer momento. Além disso, se destaca também a enorme polidez de seus sistemas, literalmente TUDO é extremamente bem planejado para que nada fique deslocado ou defasado rapidamente de forma que mesmo havendo um grande número deles, todos se conectam e funcionam perfeitamente se mantendo de fácil compreensão até mesmo para quem está começando e se revelando cada vez mais complexos na medida que o jogador vai se familiarizando com todos eles.

Como nem tudo são rosas, eu entendo que a mensalidade para nós brasileiros é uma grande barreira que impedem muitos de jogar. Além de comprar o jogo e expansões, é necessário pagar uma mensalidade de 29 reais para se manter jogando. Mas sinceramente, entendendo o ponto de vista desse valor ajudar a manter o jogo em evolução constante, manter uma boa comunidade e de que o jogo é totalmente livre de pay-to-win, é um preço a se considerar e, bem, eu não estou nem um pouco arrependido. Temos também a questão do ping, já que o jogo não possui servidor BR/SA, normalmente nós brasileiros jogamos com ping variando de 130~200 (com o NoPing e afins você consegue alcançar 80~120 ou até menos), entretanto é um ping que não atrapalha e que dá pra fazer os conteúdos mais difíceis tranquilamente na maior parte do tempo.

Se você se interessou pelo jogo, na Steam procure pela versão de teste (trial). É possível jogar até o nível 60, jogar o A Realm Reborn (jogo base) e o Heavensward (primeira expansão) completos, sem limite de tempo e gratuitamente. Com certeza vale o teste, e se você é como eu, não vai demorar muito para se apaixonar.

Dito tudo isso, obrigado se você leu até aqui. A comunidade e equipe responsável tem um apreço enorme por Final Fantasy XIV, e é um projeto que cada vez fica mais grandioso. Pra mim ele ganhou um carinho especial, já que foi o jogo que conseguiu tirar de um dos limbos da minha vida e me apresentou um MMO verdadeiramente maravilhoso, de longe o melhor que já existiu.