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Posted: Jul 30, 2014 @ 8:52pm

Expectativa é um mecanismo cerebral ingrato. Está mais ou menos relacionado a preconceito, onde você acredita firmemente em algo, antes mesmo de ter qualquer prova daquele fato. É o que pauta as categorias Surpresa do Ano e Decepção do Ano na postagem de final de ano do blog. Por que, às vezes, você espera que um jogo seja aquilo que seus desenvolvedores nem imaginavam.

Zeno Clash é uma pérola indie de nossos vizinhos (não-fronteiriços, mas culturalmente) do Chile e tira leite de pedra da engine Source, sendo um irreconhecível filho bastardo de Half-Life 2 com ervas que fariam Carlos Castaneda esboçar um sorriso, se vivo estivesse.

Nas profundezas do meu cérebro obtuso, o jogo era um RPG de ação muito louco, com lutas e um universo bizarro a ser explorado. Errei feio e subestimei tanto a quantidade de lutas quanto o aspecto insano do título.

Comecemos com o lado bom: Zeno Clash é pirado. Esqueça Outcast ou qualquer outro jogo de ficção-científica que você tenha conhecido. O mundo aqui apresentado é realmente alienígena para os parâmetros humanos: criaturas, hábitos, armas, sociedade, vestuário, tudo é tão deslocado do real que não dá para imaginar a Ace Team produzindo isso sem consumir substâncias ilegais.

É um bem-vindo sopro de criatividade e fiquei com a impressão que um pouco do realismo fantástico do também vizinho Gabriel García Marquez vazou na criação. É uma visão tão refrescante (e exótica) quanto algumas loucuras cometidas no Leste Europeu (como You Are Empty e todo o trabalho da Ice-Pick Lodge e da Amanita).

Infelizmente, a Ace Team parece ter medo de soltar o jogador neste mundo que grita para ser explorado em open world. O que recebemos em troca são mal-disfarçados corredores no meio da floresta e inimigos que brotam de lugar nenhum quando cruzamos determinado ponto do caminho. É um jogo com menos curvas e vielas do que o próprio Half-Life 2 de onde pega emprestado o motor gráfico.

A história se revela a conta-gotas e funciona como um tosco pretexto para infindáveis sequências de luta corporal. Em determinada parte, o protagonista conta para sua companheira em flashback: "conheci fulano e fulano era assim. Lutamos". Entra você para lutar com o inimigo. Imediatamente, em seguida, o protagonista conta: "também conheci beltrano e sicrano e eles eram de outro jeito lá". E adivinha? O enredo morre aí e vem mais luta. É isso. Duas, três frases e o couro come.

Os combates em si são satisfatórios. Você sente o ritmo da luta. Cada oponente tem um conjunto de gingados e táticas e você precisa estudar esses movimentos. Não é fácil. Na verdade, apanhei e apanhei muito. Mas cada golpe que você encaixa tem a sensação certa de triunfo e cada vitória vale o esforço.

Mas a Ace Team ficou deslumbrada com o sistema de luta mano a mano que criou e empurra ele a cada dois minutos. É como um filme de kung-fu, sem os exageros. Entre um arranca-rabo e outro, você tem algumas frases trocadas ou péssimas partes onde você usa armas de fogo da pior estirpe contra a fauna hostil. Mas é tudo tão frustrante que é melhor abandonar as pistolas e bestas encontradas e partir para cima dos animais com chutes e pontapés.

Com 88 minutos jogados, sei menos sobre o mundo de Zeno Clash do que gostaria e já cansei de trocar sopapos. Esperava uma aventura em terras inusitadas. Encontrei um jogo de luta, sem variedade ou alma.

Maldita expectativa.

Originalmente publicado em: http://blog.retinadesgastada.com.br/#ixzz390yWjnl8
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5 Comments
nibiron Mar 3 @ 10:08am 
Excelente análise!
Jhonny Rivers Jun 27, 2021 @ 6:22am 
Pra avaliar tem que jogar no minimo até o final, jogo é bom sim, claro, temos que lembrar que é um indie, mas é divertido e tem uma historia bacana, o jogo começa meio lento, mas pro meio ele realmente acelera, não é atoa que o jogo ganhou o game of the year indie 2009 pela PC gamer!
Rafael S. Guimarães Sep 30, 2019 @ 5:55pm 
Ótima análise, adorei o modo como as coisas foram colocas, também adoro a leitura de seus textos. Esse jogo tem muito para ser um cult , tentativa de ser algo bonito, mas que foi executado de forma ineficaz.

Uma semi-jóia não lapidada. :csgostar:
Musadriff Aug 4, 2014 @ 1:43pm 
Eu gostei do segundo, o combate é divertido. A história eh meio confusa porque não joguei o 1... agora que tenho ele original vou ver se termino, pq o piratex joguei boas horas... o cooperativo é bacana também!
Filho de Gled Jul 30, 2014 @ 9:16pm 
Se não me engano, Aquino, a parte do Open World eles consertaram no 2. Não tenho certeza até onde isso é verdade.

É realmente uma pena; esse jogo, apesar da falta de profundidade narrativa, tem um universo interessante e um sistema de combate bem divertido, confesso que é um pouco difícil de se aprender, mas, depois que se pega o jeito, fica bem divertido. O estranho é que não entendi a parte das armas; só me lembro de uma unica dificuldade no jogo e foi com as legendas. Porém, se com 88 minutos tu não conseguiu gostar do jogo, acho que nem adianta forçar. Talvez o 2 valha mais a pena (se te darem de presente).

=P

Obs: obrigado pela análise do jogo, é sempre bom ler seus textos.